Oficinas dos Caminhos-de-Ferro do Barreiro

Oficinas dos Caminhos-de-Ferro do Barreiro

Quando soa alto e bom som a buzina do “Caminho de Ferro”, significa que vem chuva e tempo do quadrante Sul, bons dias para a agricultura e para as reservas hídricas e maus dias para a pesca no rio Tejo.

É assim desde 1859, quando foram construídas as Oficinas (primitiva estação) no sítio onde hoje continuam vivas, activas, gerando trabalho e riqueza, embora tenham perdido valências e mão-de-obra nos últimos anos.

Depois de terem sido consideradas em 1886, “excepcionais” oficinas empregando 500 operários, de terem funcionado simultaneamente como gare terminal dos primeiros comboios durante mais de 20 anos, (sendo assim mais antiga que a estação de Sta. Apolónia, do mesmo estilo arquitectónico), porque não continuarem a ser as Oficinas, com maiúscula, onde se repara o histórico material diesel e onde se poderá reparar o futurístico material de alta velocidade?

Competências não faltam, a tecnologia pode ser renovada, o espaço pode ser reinventado. com a necessária formação/renovação da mão de obra altamente capacitada, poderá continuar a assegurar a vitória para o Barreiro dos desafios do futuro, como sempre assim foi!

Ficha tecnica:

“Oficinas Gerais Ferroviárias

Direitos do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana

IPA

Monumento

Nº IPA

PT031504010009

Designação

Oficinas Gerais Ferroviárias

Localização

Setúbal, Barreiro, Barreiro

Acesso

R. Miguel Pais, Av. Da República

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, em planície, isolado, a 1 km ao S. do núcleo primitivo da antiga vila do Barreiro, junto da passagem de nível da Rua Miguel Pais, tendo á sua esquerda um largo terrapleno, onde assentam as linhas férreas em direcção à Estação Ferroviária do Barreiro (PT031504010024) e ao cais.

Descrição

Planta longitudinal, composta por Edifício de serviços, com o antecorpo da escadaria, Oficinas, regular, com exterior / interior em coincidência. Volumes articulados em justaposição de massas, com disposição na horizontal. Cobertura em telhados de duas águas. Ligação aérea com a zona da estação da C. P.. Fachada principal orientada a O. com embasamento; desenvolve-se em simetria, em nível sobranceiro à rua adjacente, tendo acesso por escadaria em leque, de dois lanços de escadas de cantaria, dando sobre vasto terraço, guarnecidos por grade de ferro. No primeiro registo desenvolve-se o ante corpo, com o frontal angular, em linhas quebradas, com portal de arco pleno centrado entre duas pilastras; desenvolve-se de cada lado uma cortina de alvenaria que acompanha o comprimento do terraço inflectindo em direcção ao pano da fachada principal; remata superiormente em friso e gradeamento. O registo superior é ocupado pelo frontispício do edifício dividido em 3 panos, delimitados lateralmente por pilastras e cunhais, onde se rasgam 16 vãos de portas e janelas e 3 portões de arco pleno; o remate superior é em platibanda com frisos e cornijas de remate sobrepujada por frontão triangular, moldurado, com mostrador de relógio ao centro, e quatro vasos de remate na sequência do remate das pilastras e cunhais. A fachada a N. é composta por ilharga do edifício de serviços, e pano murário a todo o comprimento da zona oficinal, numa sequência de longos panos liso, de grande geometrismo, com frisos constituído por série de pequenos vãos de janelas, na horizontal, com sobreposição de longos panos com algumas aberturas de janelas, rematados por friso de coroamento e grade de ferro simples. Adossado ao edifício principal a S. existe uma corpo de fachada de um pano e com uma janela centrada, rematado em frontão triangular com óculo cego ao centro; a sua fachada a S. é constituído por uma longa fachada de armazém. Articulação exterior / interior desnivelada. Interior de espaço diferenciado em zona de serviços com pequeno vestíbulo que dá para outro mais vasto, com decoração contemporânea. Destaque neste edifício para as modinaturas dos alizares das primitivas portas de bandeira com verga recta ou em arco pleno, para a decoração dos umbrais e almofadas das folhas. No corredor de separação entre o antigo edifício da estação e o espaço oficinal (antigo cais de mercadorias), os alçados superiormente são revestidos a folha zincada rebitada, sendo a cobertura de plano inclinado em estrutura de grades de ferro coberto por chapas de acrílico transparente, assente em cachorrada de alvenaria, sendo aluminação zenital. Existe uma passagem para o sótão de acesso ao relógio do frontispício.

Descrição Complementar

Oficinas: compostas por estruturas em caixa (zona de serviços), de um piso, com alçados rectangulares, cobertos por tijolos, com abertura de janelas e portas de alizares de linhas direitas simples; vasta zona oficinal. Nas oficinas destaca-se uma diversificação de estruturas e equipamento industrial em articulação entre si; armação estrutural metálica, abertamente à vista, organizadas em pilastras, formadas por varões e chapas, que se multiplicam em fiadas que são o suporte das quatro coberturas de dois planos interrompidos, de grades em ferro, numa grande riqueza plástica, cobertas por chapas de acrílico, proporcionando uma iluminação zenital; este conjunto oficinal desenvolve-se dentro de caixa murária fechada, cujos alçados se prolongam a todo o comprimento do espaço oficinal, em betão, chapa zincada ou tijolo. O pavimento da oficina é alcatroado e atravessado por grande número de carris de vagonetas. Exteriormente a N. da fachada principal, destaca-se uma ponte aérea assente em estrutura de ferro armado sobre pilares de betão, ligação entre as oficinas e o espaço da Estação Ferroviária.

Utilização Inicial

Equipamento: oficinas ferroviárias

Utilização Actual

Equipamento: oficinas ferroviárias

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto | Construtor | Autor

Desconhecido

Cronologia

1855, 11 de Setembro – A Companhia dos Caminhos de Ferro ao Sul do Tejo, constituída por vários capitalistas, entre eles Francisco da Silva Soares de Freitas, tomou conta dos trabalhos de construção da primeira linha ao S. do Tejo; 1858 – início da construção das Oficinas Gerais Ferroviárias; 1861 – o local passa a funcionar como estação terminal da Linha Sul e Sueste, primitiva Estação dos Caminhos de Ferro do Barreiro, a cerca de 2 km do porto fluvial, onde se fazia a ligação a Lisboa *3; 1927 – incêndio danifica as oficinas; 1929 – instalação de luz eléctrica nas dependências das bilheteiras e informações;

Tipologia

Arquitectura civil industrial, moderna, funcionalista, e arquitectura do ferro. Oficinas em arquitectura funcionalista, de grande rigidez da gramática construtiva pouco estruturada apresentando uma articulação de massas murárias, distribuídas segundo o padrão clássico de um eixo com simetria, ostentando nos seus planos secos ligeiros motivos de art déco. Arquitectura do ferro na recuperação da superfície, da linha e do espaço como elementos expressivos arquitectónicos, em detrimento de uma noção de plástica arquitectónica de massa, e de volume modelado.

Características Particulares

Edifício oficinal em que a utilização do ferro é tomada numa atitude de modernidade, em termos espaciais, entendida num programa em que o ferro adquire dignidade cultural, utilizado como material plástico arquitectónico, em simbiose com o envolvimento de caixa fechada, de definição plástica tradicional. Estrutura onde foi utilizada técnica do rebite.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes, estruturas autónomas

Materiais

Cantaria, alvenaria, betão armado, chapa de aço rebitada, ferro fundido, tijoleira, tijolo, mosaicos de cerâmica vidrada, madeira, telhas, folha zincada e acrílico transparente.

Bibliografia

PAIS, Armando da Silva, O Barreiro Antigo e Moderno, As Outras Terras do Concelho, Barreiro, 1963; IDEM, O Barreiro Contemporâneo, A Grande e Progressiva Vila Industrial, Vol. I, Barreiro, 1966

Documentação Gráfica

DGEMN: DSID; CP

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID; CP

Documentação Administrativa

CP: Arquivos no Edifício de Santa Apolónia em Lisboa

Intervenção Realizada

EMEF: 1927 / 1928 – alteamento das paredes e reparação do telhado no cais coberto, reparação da cobertura do Armazém, cobertura do alpendre da Oficina de Tracção, e reparações na Central Eléctrica após incêndio; reconstrução da muralha do lado N.; 1929 – modificação no edifício das oficinas; caiação e pintura das frontarias confinantes com a via pública; reforço das asnas nas oficinas; 1930 – reconstrução da muralha S.; 1930 / 1933 – construção da estrutura metálica das Oficinas de Tracção, com as últimas indemnizações pagas pelos alemães, com pavimento em terra batida; construção de um muro; reparações no Armazém Central de Tracção; dragagem de lamas; 1937 – colocação de chapas de zinco no lanternim; 1940 – conclusão da vedação da Oficinas Gerais; 1942 – substituição das chapas que forram as paredes das oficinas, por panos de tijolo; 1950 – construção de escritórios em tijolo à vista, no interior da estrutura oficinal.

Observações

*1: existe a ideia de museolisar o espaço, museu vivo; *2: Pertence ainda à C. P. por Despacho Conjunto 261 / 99 de 24 / 3 /99, a modificar brevemente; *3: Este terminal teve grande importância para o desenvolvimento económico e social da região do Barreiro devido às mercadorias que começaram a passar na localidade, em trânsito entre o N. e o S. do País.

Autor e Data

Albertina Belo 1999

Actualização

Não definido”

 Ficha tecnica: Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana

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