UM PAÍS À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS.

UM PAÍS À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS.

Somos um país à beira de um ataque de nervos .

Vivemos o nosso dia a dia como se não houvesse amanhã ou como se o amanhã fosse apenas e só a continuação de hoje.

Colados à TV, “bebemos” todas as patacoadas que nos servem nos programas televisivos das manhãs, todos iguais nos quatro canais, que conseguem a rara proeza de discutirem os mesmos temas e terem o mesmo tipo de comentadores, centrando-se quase exclusivamente na criação de sentimentos de pena pelo  “pobrezinho”,  “desgraçadinho”, “acidentado paraplégico”, ou pela exaltação patética das noticias cor de rosa, que,  de cor de rosa não têm nada, sendo apenas o outro lado da pena do  “coitadinho”, embrulhado numa capa de pretenso “glamour” , promovendo-se pretensos comentadores, teoricamente habilitados a comentarem todo o tipo de situações e alegadamente, destinados a “levantarem” o ânimo dos espectadores.

Não fazemos as perguntas importantes porque sabemos que as respostas não nos vão agradar, viramos a cara para não ver a miséria espelhada no sem abrigo que remexe no contentor do lixo à nossa porta, criticamos o desempregado que “não trabalha porque quer é receber do fundo de desemprego”, (como se não tivesse descontando para isso) criticamos os políticos porque são uma cambada que vive à custa de quem trabalha, e só querem ser eleitos para se “governarem” a eles mesmos, e, para os castigar, não vamos votar em ninguém, porque são todos a mesma “cambada”.

Criticamos os professores, os médicos, os advogados, os juízes, os engenheiros, os arquitectos, porque “não sabem o que fazem”, ou porque são “aldrabões”, “vigaristas”, ganham bem e  “não querem fazer nenhum”. Criticamos tudo e todos, o sistema, “os outros”, mas nunca fazemos uma auto critica. Na primeira oportunidade que temos, lá pedimos um “jeitinho” a um amigo ou vizinho para nos safar um papelito que nos faça falta, ou para “furar” uma fila, telefonamos a alguém que conhece alguém, contornamos as regras, não concordamos com o patrão quando ele nos nega um direito, mas dizemos que sim, para não o afrontar,  assim que este vira costas, arranja-se maneira  driblar o sistema, nem que para isso seja preciso “lixar” o colega do lado.

Em época de campanha eleitoral, este pequeno e pobre País, à beira de um ataque de nervos, prefere viver a sua vidinha mansa, queixando-se de tudo e de todos, sem nunca se queixar de si próprio, sem nunca se questionar  porque razão a classe politica que critica ferozmente à mesa do café e no autocarro, é aquela que uma e outra vez, elege, consecutivamente, bem sabendo que os cortes nos salários e nas pensões, os aumentos dos medicamentos, os aumentos dos impostos, não são só neste ano, sabendo que quem promulgou estas leis aparece agora como candidato,  dizendo, e o povo acreditando, que, afinal, até nem concorda com as leis que promulgou, que até é agricultor, é um homem do povo, está solidário com os pobres pensionistas e reformados, com os trabalhadores que vão sofrer cortes salariais.

O “lobo na pele de cordeiro”, tem a vida facilitada, porque este povo à beira de um ataque de nervos, adora votar em quem  só nas campanhas eleitorais é que fala em seu nome, mesmo que no dia seguinte às eleições, o “amigo do povo”, dispa a capa de amigo e a substitua pela de político, defensor dos interesses económico financeiros dos  banqueiros amigos, preparando-se para tomar assento no Parlamento e no Governo, tendo na mira a revisão constitucional, a revisão do Código do Trabalho e a criação de um exército de trabalhadores, precários, famintos e dispostos a tudo fazer em troca de um magro salário, porque “mais vale pouco do que nenhum”.

Não há dúvida, somos um país não só à beira de um ataque de nervos, mas também à beira do precipício, para onde caminhamos a passos largos, se não dermos rapidamente a volta a isto, se não soubermos usar a arma que temos na mão: o voto. Só pelo voto podemos mudar esta situação dramática em que o País se encontra.

 Dulce Reis

 

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