A exposição “O Sismo de 1755. Setúbal e Barreiro” foi inaugurada, dia 7 de novembro, na sala de leitura da Biblioteca Municipal do Barreiro. Esta mostra resulta de uma parceria entre o Município, o Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS) e o Comando Distrital de Operações de Socorro.
A sessão de inauguração contou com a presença do Vereador Carlos Moreira, responsável pela área da Proteção Civil, por Fernando Mota, técnico do Arquivo Municipal, Joaquim Gonçalves, Presidente da Assembleia Distrital de Setúbal, e Joaquina Soares, Diretora do MAEDS. Refira-se que este Museu integra-se na Assembleia Distrital de Setúbal – constituída por 39 membros representativos dos Executivos Camarários e das Assembleias Municipais dos 13 municípios do Distrito, bem como de um Presidente de Junta de Freguesia por Concelho.
O vereador agradeceu a colaboração do Museu e do Comando Distrital de Operações de Socorro. Por seu lado, Joaquim Gonçalves informou que o MAEDS pretende motivar a investigação local através das escolas e junto de investigadores locais. Possui uma equipa de arqueólogos e historiadores que têm percorrido alguns concelhos tais como: Alcácer do Sal, Moita, Sesimbra, Santiago do Cacém.
Patente ao público até ao dia 30 de novembro, a exposição é composta por diversos materiais arqueológicos provenientes das escavações realizadas pelo MAEDS, em Setúbal. Na Rua Álvaro Castelões foram encontradas moedas, faianças calcinadas de um incêndio e, no Largo António Joaquim Correia, encontraram porcelana chinesa, faianças, um cachimbo em caulinite, peças de vidro (provenientes da Real Fábrica de Vidros de Coina).
Estão, igualmente, expostas imagens de painéis de azulejos da época alusivos a diversos santos, entre eles, S. Marçal – santo padroeiro dos bombeiros para proteção divina às casas.
Construção simples das casas terá evitado maior número de mortes no Barreiro
Fernando Mota apresentou as consequências do sismo, no Barreiro. Explicou que o Concelho tinha uma divisão administrativa diferente o atual. Era dividido pelos concelhos do Barreiro, Lavradio e Coina.
O número de pessoas mortas foi de apenas seis (quatro por desabamento de edifícios e dois por afogamento). Segundo as memórias paroquiais todas as igrejas foram afetadas.
O facto do número de mortes não ter sido elevado no Barreiro deve-se, segundo Fernando Mota, ao facto das casas serem de construção simples (telhado de palha e tijolo de barro).
Através de imagens e fotos projetadas enumerou vários edifícios que ruíram, como por exemplo o Moinho de Maré da Verderena, a Ermida de S. Sebastião, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário a antiga Feitoria da Telha, o Moinho de Maré de Palhais e a igreja matriz de Coina (ruina existente ainda hoje).
Sismo teve igual magnitude em Lisboa e Setúbal
Segundo a diretora do MAEDS, “em Setúbal, o sismo teve magnitude semelhante à que foi sentida de Lisboa, tendo sido acompanhado de Tsunami”, resultando na morte de quatro mil pessoas.
A técnica explicou que a área mais baixa da cidade foi muito afetada. Numa abordagem do ponto de vista arqueológico, o MAEDS estudou duas áreas distintas: na Rua Álvaro Castelões foram encontrados os restos de um incêndio que arruinou uma loja e a casa do mercador, na zona mais central do casco da cidade.
No Largo António Joaquim Correia, mais perto da praia, não foram encontrados vestígios de incêndio, mas por outro lado encontraram-se fendas nas paredes do edifício de “onde jorrava água quente”, referiu Joaquina Gonçalves. Segundo as memórias paroquiais de 1755, a freguesia de São Julião foi a mais afetada.
A diretora acredita que o Sismo marca uma mudança de mentalidades. Este deixou para trás um pensamento medieval, antigo e arcaico, dando lugar ao Iluminismo. Nessa altura passou a existir uma guerra entre os defensores desta corrente de pensamento (representado pelo Marquês de Pombal) que atribuiu o sismo a causas naturais, contrariamente ao pensamento dos jesuítas que queriam fazer querer à população que o sismo era fruto de castigo divino.
De salientar que a população em geral está convidada a apreciar este trabalho, com especial destaque para o público escolar. Mediante marcação, as escolas estão convidadas a visitar a exposição e os seus alunos podem aprender os comportamentos a adotar em caso de sismo, com duas monitoras, das áreas de Histórica e Proteção Civil.
Está, ainda, prevista uma segunda palestra, em data a definir, dinamizada por Paula Almeida do Comando Distrital de Operações de Socorro de Setúbal, com um cariz mais técnico e abrangente.
CMB 2012-11-08
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