[ PARA A HISTÓRIA DO COLONIALISMO PORTUGUÊS ]
6. A CHEGADA DOS PORTUGUESES A ANGOLA
Quando os portugueses chegaram a Angola em 1468, e Diogo Cão penetrou na foz do rio Congo, encontraram povos organizados em reinos com denominação e localização geográfica bem determinada. Alguns destes reinos constituíam estados centralizados, com uma organização política de tipo feudal (casos do Congo, Loango e Lozi) em que a actividade económica estava ligada à extracção mineira. Outros tiveram a sua origem e crescimento ligados ao desenvolvimento do comércio, como os casos de Ndango, no Vale do Quanza, e o grande império Lunda, que no século XVIII veio a ser o maior exportador de escravos. Coexistiam, é verdade, povos com uma estrutura política de tipo tribal em que a principal actividade era a caça e a troca de marfim, com os Cokwe, por exemplo.
A economia de tipo feudal implicava cooperação e troca em larga escala, com a distribuição dos excedentes a cargo do rei, promovendo-se uma elite administrativa e originando casos isolados de proto-industrialização (exemplo dos Lozi). Mas a entrada de grande quantidade de produtos trazidos pelos portugueses e outros europeus a partir do século XV, foi decisiva para o rompimento daquele tipo de sistema económico. Com essa transformação, o comércio e a produção para exportação adquiriram maior importância, e o aparecimento dum instrumento de troca – os tecidos – facilitou essa expansão.
Noutros reinos como o Loango, em que a base da actividade económica era a agricultura, deu-se no século XVI, uma expansão considerável com base na especialização, sobretudo dos tecelões de tecidos de palmeira destinados ao vestuário e ao sistema monetário de troca.
Havia uma joalharia de cobre muito antes dos europeus o comercializarem, e, em 1660, a mineração, fundição e transporte do cobre para venda pelos Villi, de Loango, era uma operação bem organizada, estimulada pelos contactos com os ocidentais.
O reino do Congo por seu lado, fornecia um bom exemplo de sistema comercial obedecendo às leis do mercado. A sua riqueza mineral e a sua posição estratégica com florestas de costa e savana, foram suficientes para esse desenvolvimento mesmo antes do estímulo do comércio com os europeus. Todavia, depois desse contacto, o Congo começou a apresentar sinais de declínio a pontos de vir a ser dominado pelos portugueses.
Para os Cokwe, os melhores caçadores do interior, semi-nómadas, que produziam principalmente cera e marfim, a actividade de exportação era reduzida, especialmente quando o comércio de Angola foi totalmente absorvido pelo tráfico de escravos. Já no século XIX a abolição da escravatura trouxe boas perspectivas, a esta etnia com a procura dos seus produtos a aumentar, de tal forma que, em 1854, os elefantes tinham desaparecido da área e os Cokwe viram-se obrigados a procurar manadas noutro sítio.
Portanto, quando os portugueses chegaram a Angola depararam com um comércio desenvolvido e uma produção dirigida para o mercado, como era a do sal e dos objectos de cobre e de ferro. Por essa razão, o comércio, e não a colonização, através da instalação de feitorias nas costas e em pontos estratégicos do interior, foi o padrão utilizado pelo menos até 1575.
BIBLIOGRAFIA :
- DAVIDSON, BASIL – “Revelando a velha África”, PRELO,
LISBOA, 1968.
- O COLONIALISMO PORTUGUÊS – ANGOLA,
Seminário de Estudo ISE, Lisboa, 1970
Armando Teixeira
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